quinta-feira, 13 de abril de 2023

"Criaturas do Senhor" traz Paul Mescal e Emily Watson em discussão sobre abuso e maternidade.


Se você é mãe está lendo este texto, o que você faria para defender o seu filho?

Acredito que muitas aqui responderiam a essa pergunta dizendo que fariam de tudo pelo filho. Pois bem, mas e se seu filho cometesse um crime, qual seria a sua atitude? Continuaria defendendo-o com unhas e dentes mesmo sabendo o quão errado isso é?

Produzido pela aclamada A24 e dirigido por Anna Rose Holmer e Saela Davis, "Criaturas do Senhor"estreia hoje nos cinemas e traz Paul Mescal (indicado ao Oscar de melhor ator por Aftersun) e a incrível Emily Watson (duas vezes indicada ao Oscar por "Ondas do Destino"e "Hillary e Jackie")  num drama familiar que nos faz justamente refletir o quanto uma mãe, ao querer proteger o seu filho, pode acabar emocionalmente com a vida de outras pessoas.

Na história que se inicia em uma vila de pescadores em que as pessoas não tinham o hábito de serem criadas para aprenderem a nadar, o filho de uma das moradoras dessa região morre afogado e, durante o encontro de Aileen (Watson), em um bar, com a mãe do menino morto - vale ressaltar que nessas regiões, apesar do clima de tristeza e pesar, é muito comum serem oferecidos almoços ou encontros com comida e bebida para se prestar condolências aos familiares da pessoa falecida - seu filho Bryan O'Hara, regressa à sua terra, a Irlanda, sem avisar e diz que voltou para ficar.

Feliz com a volta do simpático e amoroso rapaz, Ailleen não mede esforços para vê-lo feliz. Logo de cara ela arruma tudo para que ele possa trabalhar na fazenda de ostras da família e percebemos que a relação do filho com o pai não é das melhores, já que ele não se mostra nada feliz com a volta do filho.

Em nenhum momento sabemos do passado dessa família e, principalmente, a razão que fez Bryan ir embora da Irlanda e porquê ele resolveu voltar. Tudo é muito obscuro e tudo o que se pode ser entendido do filme fica nas entrelinhas dos diálogos e das ações das personagens.

Porém, há o abuso sexual de uma moça muito amiga de todos da família e, como primeiro suspeito, temos Bryan O'Hara.

Aileen quando interrogada sobre se estava com o filho na noite em que tudo aconteceu, confirma que sim e, a partir daí, não só as máscaras daquela família começam a cair quanto começamos a ficar cada vez mais intrigados em saber os motivos que levaram aquele jovem a ir embora para a Austrália e, consequentemente, o seu retorno à Irlanda.

Todos ali guardam histórias, segredos e não se abrem. O fato ocorrido começa a estremecer a relação entre mãe e filho e, também, entre Ailleen e as pessoas daquele lugar.

Talvez essa falta de informação incomode um pouco. O fato do espectador ficar sem respostas faz com que o filme termine e a gente fique por tempos e tempos digerindo tudo o que ali aconteceu.

A fotografia é escura até pra reforçar o aspecto frio do lugar e, logicamente, das pessoas e a atuação de Mescal e Watson não decepcionam.

Ela fala com os olhos e não precisa falar nada para mostrar os sentimentos de Ailleen com relação ao filho e toda aquela situação. Percebemos o quão angustiante e desolador tudo aquilo é e vemos o quanto ela vai se transformando à medida que percebe que proteger o filho não foi uma boa solução para o problema em que ele se envolveu.

Mescal também mostra que, além de seu papel em Aftersun, há muito a vir por aí.

É um filme interessante, mas não uma grande trama apesar das atuações. Vale conferir e refletir: Ser mãe é realmente proteger o filho de absolutamente tudo?

sábado, 8 de abril de 2023

"O Colibri" fala sobre escolhas e caminhos que nós decidimos seguir.


A vida é feita de escolhas, de caminhos que decidimos seguir, mas nem tudo o que planejamos pode realmente se concretizar. 

Como diria Drummond, existem pedras no meio do caminho, escolhas que devemos fazer, pessoas com as quais a gente cruza e que ficam para sempre e outras que a gente perde de maneira inesperada e que fazem com que a gente comece a trilhar um novo caminho para fugir da dor ou, talvez, suportá-la.

Mas o que teria a ver um colibri nesse caminho todo que percorremos?

Pra quem não sabe, colibri é uma especie de beija-flor e são os únicos pássaros que conseguem andar pra trás e pra frente e é nesse ir e vir que a diretora Francesca Archibugi nos presenteia com "O Colibri", filme que estreia no próximo dia 13 de abril nos cinemas e que traz no elenco Pierfrancesco Favino (Marco Carrera), Bérénice Bejo (Luísa Lattes), Benedetta Porcaroli (Adele Carrera) e Nanni Moretti (Daniele Carradori).

No longa, que é baseado no romance homônimo de Sandro Veronesi, acompanhamos de maneira não linear, a história de Marco Carrera e sua família. Seus amores, suas dores, perdas que vêm e vão de forma abrupta em todas as fases de sua vida.

É bonito ver como Francesca Archibugi trabalha a história, como ela movimenta a câmera num estilo que lembra muito as tomadas de Câmera de Paolo Sorrentino e como esses fast fowards e rewinds na narrativa, acompanham esses movimentos de câmera e fazem com que a gente se prenda à vida desse médico fã de The Clash.

Aliás, tudo da vida de Marco Carrera é belo e extremamente triste. À primeira vista parece que ele é passivo diante de tudo que se passa a seu redor, mas à medida que vamos conhecendo esse homem mais a fundo, a gente se coloca no lugar da personagem e percebemos o quanto seu sofrimento o faz não só amadurecer como também tomar uma das decisões mais difíceis no final de sua vida.

As perdas que todos nós temos enquanto estamos vivos nos machucam de maneira desoladora. Falta chão, falta ar e a dor nos provoca feridas profundas que, com o passar do tempo, se tornam cicatrizes, mas que incrivelmente nos tornam mais fortes. Força essa que não imaginamos que possa haver dentro de nós.

Talvez tenha sido isso que a diretora Francesca Archibugi tenha querido provocar em nós. Talvez ela tenha querido que revisitássemos a nossa vida e refletíssemos sobre tudo o que passamos e sobre todo o desconhecido que está por vir.

Pra quem for assistir a esse lindo filme italiano, é melhor preparar a caixa de lenços pois, pelo menos pra mim, foi impossível passar por ele sem chorar e lembrar das perdas recentes que ainda doem (e muito) dentro de mim. 

"Criaturas do Senhor" traz Paul Mescal e Emily Watson em discussão sobre abuso e maternidade.

Se você é mãe está lendo este texto, o que você faria para defender o seu filho? Acredito que muitas aqui responderiam a essa pergunta dizen...