terça-feira, 29 de novembro de 2022

Plano A traz as feridas do holocausto abertas e nos fazem refletir se a vingança é a melhor solução.


 



Dizem que a vingança é um prato que se come cru ou talvez deva ser lenta e dolorosa, olho por olho, dente por dente e pro judeu que sobreviveu aos horrores do holocausto, essas máximas estão marcadas no corpo, na alma e no coração. 

Pensando nisso, o que você faria se toda a sua família fosse assassinada sem motivo algum?

E a resposta à essa pergunta é a reflexão que os diretores  Doron Paz e Yojay Paz querem que o espectador faça ao se deparar com Max, um judeu sobrevivente do holocausto que perdeu sua mulher e filho e agora pretende se vingar das pessoas que fizeram, não só a ele, mas milhares de judeus sofrerem.

Plano A, que estreia nos cinemas no próximo dia 01 de dezembro, é uma história baseada em fatos reais e acompanha a dor e a ira de Max e também o grupo de germano poloneses a quem ele se junta que, compartilhando da mesma dor, planeja manipular o abastecimento de água potável em várias cidades da Alemanha, jogando veneno nessa água e, eliminando assim, toda a população alemã.

É interessante ver como isso é planejado e como, na verdade, eles querem dar, aos alemães, o mesmo fim. O que não percebem é que, em meio a essa população, também há pessoas inocentes e que não apoiaram o extermínio de cerca de 6 milhões de judeus. 

Claro que, pensando em vingança, Tarantino também sugeriu o mesmo fim aos alemães em seu brilhante Bastardos Inglórios. Shoshana também queria vingança, mas na obra de Tarantino, a Alemanha ainda estava sob o domínio de Hitler. Em Plano A não. Os judeus já estavam livres e podiam, de alguma forma, reconstruir suas vidas, mas nós, que não tivemos a vida das pessoas que amamos ceifadas pelo holocausto, não poderemos, jamais, imaginar o tamanho dessa dor.

A dor de quem viveu o holocausto cega, ensurdece, machuca àqueles que, de alguma forma, escaparam e sobreviveram e se culpam por não terem conseguido salvar a quem tanto amavam. 

Acompanhando uma fotografia fria e escura, as cicatrizes do holocausto permanecem aprisionadas num saco de couro que Max recebe de um companheiro também sobrevivente e no cinema que, ao invés de alegrar e divertir, escancara os horrores do nazismo e surra ainda mais quem deseja esquecer.

Plano A é sobre sobrevivência, vingança e surpreende no final, mas não deixa que você se esqueça da pergunta inicial: O que você faria se roda a sua família fosse assassinada sem motivo algum?


domingo, 6 de novembro de 2022

Arthur Moreira Lima mostra que a música é para todos


Mais de 1 milhão de pessoas em mais de 500 cidades do Brasil. Foi assim que entre 2002 e 2018 o pianista Arthur Moreira Lima resolveu, após ter rodado toda a Europa, levar seu piano e a música a pessoas que, muitas vezes, sequer haviam visto um piano.

É acompanhando essa incrível jornada que o documentário Arthur Moreira Lima - um piano para todos, que estreia nos cinemas no próximo dia 10 de novembro, mostra o quão simples esse renomado e premiado pianista é.

Com um caminhão teatro e sua música clássica, Arthur Moreira Lima leva música a todos gratuitamente.

Arthur que sempre deu a vida para tocar piano, rodou o mundo se apresentando em grandes concertos para pessoas que se dizem entendidas em música clássica, deixa para trás o luxo das grandes salas e se preocupa em fazer com que as classes mais baixas também tenham cultura e coisas de qualidade.

Durante 87 minutos somos a câmera que acompanha Arthur e sua equipe. Andamos em meio à lama, pegamos balsa e admiramos os olhares atentos de quem nunca ouviu Mozart, Chopin ou Tchaikovsky.

São olhares vidrados e apaixonantes. Olhares de quem se deixa levar pela música clássica e se deslumbra com as mãos ágeis de Arthur que dedilham com destreza e suavidade as notas mais graves e agudas, de concertos escritos há mais de um século e que, nos dias de hoje, trazem tanto alento.

Como ele mesmo diz, sua profissão, hoje, é ser Arthur Moreira Lima. Seu concerto ao ar livre se assemelha a uma missa campal e, assim como na vida e nas narrativas, a música também tem seus pontos culminantes e diferente de pessoas poderosas que acham que o pobre se satisfaz com uma laranja podre, Arthur lhes entrega um banquete digno de grandes castelos e mostra que a música alimenta a alma e é para todos.


Em pleno 2022, A Mãe nos revela que a ditadura não acabou.


Maria é mãe de Valdo. Mãe solo batalhadora que vive como camelô numa cidade em que não há emprego, comida e dignidade para todos.

Valdo é um adolescente que cursa o ensino médio, faz rap e sonha em ser jogador profissional. Não gosta dos estudos já que num mundo tão desigual tem que sobreviver de alguma forma.

Ambos são frutos de uma sociedade injusta, de um governo que não se preocupa com o pobre e de uma população que idolatra a milícia e a extinção dessa parcela pobre da população.

Podíamos aqui estar apenas falando de ficção, mas a gente sabe que o enredo de "A mãe, filme dirigido por Cristiano Burlan e que estreia nos cinemas no próximo dia 10 de novembro, extrapola o fictício e nos mostra que em pleno 2022 a ditadura militar permanece em forma de uma polícia que discrimina, tortura e mata, pois é essa a solução que muitos veem para acabar com a miséria que está cada vez maior e mais presente em nosso país.

Vencedor de vários prêmios no Festival de Cinema de Vitória, "A mãe"traz Marcélia Cartaxo como Maria, numa atuação comovente e que mostra o quão é sofrido viver no Brasil dos dias atuais.

O que acontece com Maria acontece diariamente nas periferias brasileiras. Mães procuram seus filhos e tentam entender o porquê vidas são ceifadas tão precocemente e o porquê não há igualdade e oportunidades para todos.

A câmera de Cristiano Burlan é observadora, parece estar sempre à espreita e faz com que imaginemos o teor do bilhete escrito por Valdo antes de sair para não voltar mais e o que ele levava dentro da mochila que faz com que a polícia militar resolva executá-lo.

"A mãe"é um filme duro, podia até mesmo ser documental e mostra que mesmo quem está dentro da comunidade é pressionado pelos chefões que dizem proteger o lugar e fora dele nem a polícia civil e nem a militar ampara quem é pobre, negro, marginalizado.

Há de se demorar muito para se ter um mundo mais igualitário, justo e o filme de Burlan só mostra que essas pessoas vivem sob o medo e que muitas vezes o som do cotidiano são ofuscados pelas batidas fortes do coração acelerado que não tem um minuto de paz e serenidade, pois assim como o poeta já nasce com a palavra dentro dele, o pobre já nasce com um destino injusto traçado e poucos são os que  conseguem se livrar desse destino.

"Criaturas do Senhor" traz Paul Mescal e Emily Watson em discussão sobre abuso e maternidade.

Se você é mãe está lendo este texto, o que você faria para defender o seu filho? Acredito que muitas aqui responderiam a essa pergunta dizen...