sexta-feira, 26 de agosto de 2022

"Entre Rosas"- Desistir dos sonhos não é uma opção


          Nascer, ser cuidado, criar e procriar. Poderíamos aqui estar falando sobre o ser humano, mas não, aqui, não é esse o ponto.

       Quando falamos em cuidado e criação, não estamos só falando de pessoas. Quando se tem um negócio pequeno, seja ele uma herança de família ou não, é preciso criar, cuidar, regar todos os dias e, acima de tudo, ser forte o suficiente para não ser engolido pelas grandes corporações.

         É nessa batalha diária e no cuidado com o que se ama que temos a história de Entre Rosas, filme francês dirigido por Pierre Pinaud, que estreia nos cinemas no próximo dia 1º de setembro.

         Distribuído no Brasil pela California Filmes, Entre Rosas conta a história de Eve, uma famosa criadora de rosas que se vê arruinada quando uma grande empresa de flores começa a ter destaque e a querer comprar o seu pequeno negócio.

          Aliás, seu grande concorrente é quase digno da Rainha de Copas em "Alice no país das maravilhas", romance escrito em 1862 por Lewis Carrol - que queria rosas perfeitas e seus serviçais viviam tentando pintar as rosas brancas de vermelhas - mas não pela maldade ou por querer cortar a cabeça de todos que não o obedecem, mas sim, por ser criador de rosas perfeitas e por não doar e nem permitir que outras pessoas façam criações maravilhosas a partir de raridades em sua propriedade.

          Querendo sobreviver e manter sua grande paixão - herança de seu pai - Eve decide que não vai desistir e, com a ajuda de três trabalhadores sem habilidade nenhuma para flores, ela planeja roubar uma muda de uma rosa super rara que está em posse de seu algoz para, quem sabe, vencer o concurso do próximo ano e recuperar suas perdas nesse negócio.

         Nessa ideia incrível para se reerguer, Eve percebe que não são só as rosas que precisam de extremo cuidado. Do contato com Fred, um ex-detento abandonado pelos pais, ela percebe que as pessoas também criam espinhos para se defender e que carinho e cuidado também podem transformar até as mais secas folhas e os mais rígidos corações.

            Mas, assim como diria o músico Geraldo Vandré lá no fim dos anos 70, pra não dizer que não falei das flores, Entre Rosas é de uma delicadeza sem igual. Com uma fotografia delicada e impecável como se fosse uma pintura de Klint, Van Gogh ou Manet, o longa traz as cores de uma extensa plantação de rosas e há momentos no filme que parece até que sentimos o aroma adocicado e cítrico de rosas tão belas.

            Talvez essa precisão se dê por conta da paixão que Pinaud tem por flores desde criança, e por imaginar o jardim ideal junto de seu irmão.

             Pra quem procura uma comédia leve, gostosa e delicada para assistir, Entre Rosas cumpre o seu papel e nos faz refletir até que ponto temos que apenas comprar e consumir das grandes corporações, sempre cheias de técnicas, muitas máquinas e funcionários. Pequenos produtores também oferecem produtos de excelente qualidade e, às vezes, a simplicidade pode ser melhor do que a perfeição. Além disso, o pequeno produtor entrega carinho, amor e dedicação e, nessa analogia entre o gigante e o pequeno, Pinaud também faz um excelente trabalho em meio a centenas de enlatados que temos por aí.

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