quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Dark web: CIcada 3301 - uma mistura de Matrix, 007 e muita piada

Um cara bonitão, inteligente, extremamente ágil com as contas, capaz de memorizar os números de um cartão de crédito em segundos. Um hacker que lembra a personagem Neo, de Matrix e, talvez por isso, a gente pense estar diante de um novo Matrix.

Dark web: Cicada 3301, dirigido por Alan Ritchston, que estreia hoje exclusivamente na Claro TV e nas demais plataformas digitais (Vivo Play, Google Play, AppleTV e Microsoft Movies & TV) no próximo dia 13 de outubro, conta a história de Connor, um atendente de bar que, a partir da insolência de um cliente, que deixa uma gorjeta para a garçonete de U$ 0,50, resolve se vingar entrando com os dados desse cliente na web e, a partir disso, cai numa espécie de máfia denominada Cicada 3301 e, então, resolve investigar com a ajuda da bibliotecária Gwen e de seu melhor amigo, Avi, até ser pego e julgado pelo que fez.

A proposta do filme é interessante. Mostrar um pouco do que se trata a deep web e as organizações que existem por trás desse universo obscuro, porém, o diretor Alan Ritchson, que é famoso por sua atuação em séries como Smallville e Reacher, não sabe ao que veio e nem exatamente o que quer.

Não há ligação do almofadinha arrogante da gorjeta de U$ 0,50 com a Cicada. O longa começa como um filme de ação e, em várias cenas de assuntos que deveriam ser sérios, ele coloca piadas fora de hora, em sua maioria de cunho sexual como a mentira que ele inventa dizendo que os agentes da NSA queriam estuprá-lo em frente de sua vizinha criança e esses mesmos agentes mais parecem ter saído de um filme dos Trapalhões do que realmente serem pessoas que vão dar fim a esse universo digital criminoso.

O próprio personagem Connor é um cara que tem um trabalho, mas não tem dinheiro para pagar o aluguel, porém, não se sabe como, pega um avião e voa para Londres para participar de uma festa da Cicada 3301. Tudo é irreal e inverossímil.

Connor é um cara todo preocupado e defensor da colega de trabalho, cuida da vizinha pequena, paga de bom moço, mas em momento de extrema tensão e perigo iminente, pergunta à companheira de aventura, Gwen, se ela é realmente lésbica.

Enfim, é um filme com roteiro fraco, cheio de buracos,  esteticamente muito bem feito, que quer imitar Matrix com diálogos que remetem ao coelho branco, tenta ser 007 - sem tempo pra morrer na cena do olho e da festa, tem como temática um assunto bem interessante, mas que deixa várias pontas soltas e que mostra que o crime compensa, pois não só a Cicada era uma organização criminosa quanto as pessoas que julgam Connor e querem o fim da Cicada estão envolvidas até o pescoço com a corrupção.

Contudo, é um bom passatempo para quem quer esvaziar a mente depois de uma semana cheia e quer assistir a um filme repleto de muitos absurdos e muita ação, com piadas sem graça e muitos efeitos especiais.


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Livro dos Prazeres mostra que a maior dor é o vazio existencial


 Adaptado do livro de Clarice Lispector, "Uma aprendizagem ou livro dos Prazeres", Livro dos prazeres da diretora Marcela Lordy, que estreia 22/09 nos cinemas,  não é 100 % fiel e mostra o relacionamento de  Lóri e um Ulisses bem diferente do que Clarice nos entrega, mas Simone Spoladore não faz feio ao interpretar Lóri, muito pelo contrário, Spoladore se entrega de corpo e alma às dores mais profundas do existir humano.

"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é o que é o viver mesmo.""

Assim nos diz Guimarães Rosa tão sabiamente e Clarice Lispector parece traduzir as palavras de Rosa ao nos mostrar, por meio de Lóri, que não há dor maior nesse mundo do que a dor do vazio que habita dentro de nós.

Mas não só Clarice Lispector quer nos fazer refletir sobre o medo de viver. Marcela Lordy nos mostra, por meio de imagens, o quão pequena Lóri se sente perante o mundo, o quanto o medo de ser feliz é maior do que todas as coisas.

Seja num apartamento grande, numa festa cheia de gente ou na imensidão do mar, Lóri é pequena perante a solidão e a dor que ela sente por existir.

É por meio desse jogo fantástico de fotografia, que Lordy não precisa nos mostrar em diálogos as angústias de Lóri.

No filme, seus relacionamentos são efêmeros. Ela quer se entregar a Ulisses, mas tem receio e a química entre os dois atores (Simone Spoladore e Javier Drolas) parece não existir. Diferente do livro, em que a a gente torce pra que Lóri se entregue de corpo e alma a Ulisses, no filme o relacionamento dos dois parece ser até certo ponto tóxico e talvez torçamos para que ela fique com o colega professor do que com o filósofo esquerdomacho.

Claro que mesmo tendo mudanças em relação à obra, Marcela Lordy faz juz à Lóri de Clarice. Sentimos o quão sofrido é viver, o quão sofrido é se entregar, amar e é essa essência da personagem que faz com que "Uma aprendizagem ou livro dos prazeres" seja uma obra tão intensa e tão linda e é a interpretação brilhante de Simone Spoladore que faz o filme valer muito a pena.



Desterro é o som que não podemos suportar


Desterro, novo filme de Maria Clara Escobar, estreia amanhã (22/09) nos cinemas e é um filme cheio de som. Som esse não apenas de objetos sendo abertos, água escorrendo dos céus. Por mais sutil que seja, Desterro podia ser "Cotidiano"de Chico Buarque e no silêncio de uma cozinha que nos apresenta sempre Laura e Israel, enquanto ela faz o chá e ele abre o pacote de pão, podia-se ouvir ao fundo "todo dia ela faz tudo sempre igual...", mas não. O que ouvimos em Desterro são o olhar triste e perdido de Laura. É o desespero da corrida de Israel. São as imposições que a sociedade coloca na vida alheia diariamente, a burocracia no traslado de um corpo de fora do país. São raros os momentos felizes e nem na foto de um simples RG se pode sorrir. Tudo o que rodeia aquela família é extremamente sonoro. É a faca em atrito com o pão, a respiração, o tilintar da colher na xícara de chá a notícia de uma catástrofe que ofusca o momento de um parabéns de uma festa infantil. Aliás, tudo na mente de Laura é catástrofe. Há poesia em se morrer com o fim do mundo. "Deve ser lírico" - ela diz. Desterro é poético, é político é real. Sutil e são nos sons e nas entrelinhas que a gente mergulha na dor humana. Desterro é o som que nossa mente não consegue suportar. Procure o cinema com melhor som e mergulhe nos sentimentos de Laura e Israel. E se for esperar pra ver num futuro numa tela melhor, use fone, pois Desterro é um filme para sentir e ouvir e não somente ver.

"Criaturas do Senhor" traz Paul Mescal e Emily Watson em discussão sobre abuso e maternidade.

Se você é mãe está lendo este texto, o que você faria para defender o seu filho? Acredito que muitas aqui responderiam a essa pergunta dizen...