domingo, 4 de dezembro de 2022

Sol e as fragilidades das relações humanas


 O que liga as pessoas nessa vida são os vínculos, que podem durar um tempo, ser pra vida toda, ou simplesmente se romper abruptamente.

Mesmo que seja sangue do mesmo sangue, há laços que se quebram e são extremamente difíceis de serem resgatados. É como uma louça que se parte em centenas de pedaços. Nem sempre há cola que possa juntar com perfeição algo que se quebrou.

E assim como as águas de rio e mar que nem sempre se encontram, o longa Sol, dirigido por Lô Politi e que estreia no próximo dia 08 de dezembro nos cinemas, nos apresenta a Theo, interpretado de maneira brilhante por Rômulo Braga, um artista solitário, pai de Duda (a estreante Malu Landim) que perdeu vínculo não só com ela a quem não via há cerca de um ano, e com seu pai, Theodoro (Everaldo Pontes) o qual ele descobre, através de insistentes telefonemas, que se encontra em estado delicado num hospital no interior da Bahia.

Cumprindo o papel de filho sem ao menos querer, Theo embarca em uma viagem com a filha para reencontrar o pai e decidir o destino dos três.

Interessante perceber que Theo não tem intenção nenhuma em reencontrar o pai, na verdade não quer nem mesmo ter mais o mesmo nome que ele e de Theodoro que em grego significa presente (dóros) de Deus (Theos) sobra apenas esse Deus que os une mesmo sem Theo querer.

Nessa briga interna em cumprir sua função de filho ou apagar da memória um tempo que não retorna mais, Theo ainda tem que se ligar à filha que, sem perceber, ele não conhece, pois não sabe nem do que ela gosta de comer no café da manhã.

Sol escancara as feridas abertas de Theo. Mostra o ódio que ele sente pelo pai e a fragilidade de sua relação com a filha. Aponta que Duda se conecta mais com o avô sem ao menos conhecê-lo do que com ele e que o vínculo pode ser criar tão facilmente quanto quando se quebrado.

Sol é um roadie movie que começa na água e termina na água. Águas ora calmas ora turbulentas como a vida de Theo e como a vida de todos nós. Águas que trazem boas lembranças, que machucam e que constroem lembranças novas. Águas que estreitam laços e desfazem nós, que dão e tiram vidas, mas que marcam e não nos deixam esquecer.






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