Existem amizades que vêm, literalmente, de berço. Aquela coisa mesmo das famílias serem super amigas, terem filhos e esses filhos crescessem como se fossem irmãos.
Há quem diga até que um amigo pode ser, ainda, mais amado que um irmão e, como qualquer relação entre irmãos, há carinho, afeto, cumplicidade e, claro, amor, muito amor.
Lukas Dhont nos presenteia com Leo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav de Waele) em Close, filme que estreia dia 2 de março nos cinemas brasileiros e entra no catálogo da MUBI a partir de 21 de abril.
Com 13 anos, Leo e Rémi são amigos de infância. Passam a maior parte do dia juntos, Leo costuma dormir na casa de Rémi, os dois sempre jantam juntos e um é a família do outro. São amigos/irmãos e da mesma forma que o filme é de um colorido vibrante e cheio de vida, a amizade dos dois também o é.
Porém, algumas famílias costumam educar seus filhos ensinando-lhes que, principalmente dois meninos andam muito juntos ou dois homens andam muito juntos, demonstrando publicamente afeto e carinho, isso quer dizer que, ali, há uma relação homossexual.
E é quando eles vão à escola, juntos, que os questionamentos começam e os colegas começam a insinuar que dessa relação entre irmãos há uma relação homoafetiva.
Se fossem dois adultos maduros talvez fosse fácil dar de banda à essas insinuações, mas quando se tem 13 anos esses questionamentos ferem a ponto de afastar dois amigos que sempre estiveram unidos realmente como irmãos.
A partir desse afastamento, surgem brigas e dessas brigas algo muito triste e trágico acontece, afetando para sempre a trajetória desses meninos e dessas famílias.
O interessante no filme é justamente como o diretor Lukas Dhont nos escancara essa realidade que nos rodeia todos os dias. Como ele afasta e aproxima a câmera, o jeito como a coloca fixa em algum ponto ou corre com ela em mãos pra pra nos provocar as mais diversas sensações.
As pessoas são perversas, as crianças podem ser sim más e tecerem comentários que ferem mais do que uma facada no peito ou um osso quebrado em um dos braços.
Raros são aqueles que vêem a pureza das coisas e das pessoas. A maioria julga sem dó e sem pensar a que consequência isso pode levar.
Close é um filme lindo, cheio de flores, colorido, mas triste demais. Na sala de cinema que eu estava no dia da exibição não teve uma só pessoa que não tenha saído chorando dos cinemas e, assim como eu, não deve ter ficado dias e dias pensando em tudo o que podia ser diferente e como o preconceito destrói vidas assim como pragas destróem uma plantação.
Assim como a terra revolta, a vida da gente tem que estar sendo diariamente preparada pra novas sementes que vingarão ou que fenecerão. e nós, como plantadores, devemos estar sempre atentos ao que pode servir adubo bom ou ruim. Devemos ensinar desde cedo aos nossos que o ferrão das abelhas é dolorido, mas eles, apesar de muitos e às vezes frequentes, são só ferrões e as picadas doloridas cicatrizam.
Dentro da caixa de Pandora, apesar dos males que se espalharam pelo mundo, sobrou a esperança e é nela que temos que nos agarrar pra combater todo esse preconceito e julgamento que há no meio de nós.


