quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Boa sorte, Léo Grande" e como nenhuma mulher está realmente preparada para envelhecer


Já disse David Bowie: "Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você deveria ter sido".

Partindo dessa ideia, ambientado quase que unicamente dentro de um quarto de hotel, "Boa sorte, Léo Grande", que estreia dia 28 de julho nos cinemas,  nos mostra o quanto envelhecer pode ser extremamente difícil.

Não são só os cabelos que ficam brancos ou a pele que começa a ficar flácida e enrugada. Nem sempre a mente acompanha os processos do corpo e Nancy, interpretada brilhantemente pela atriz Emma Thompson,  revela para o espectador que, mesmo com mais de 60 anos, uma mulher pode querer ser desejada como se tivesse 20.

O grande problema é que, na realidade, a gente sabe que não é assim. Para a mulher, o peso da idade avançada é avassalador e muitas vezes até, destruidor.

Dirigido por Sophie Hyde, "Boa sorte, Léo Grande" conta a história de Nancy, uma professora de 63 anos que, viúva há 2, resolve contratar um garoto de programa, Léo, interpretado por Daryl McCormack para tentar ter algo que nunca teve: um orgasmo.

Extremamente organizada, cheia de regras como um quarto bem arrumado de hotel, Nancy vai se despindo, a cada encontro com Léo, de suas roupas, de seus pensamentos retrógrados e de uma vida em que ser a esposa e mãe perfeita a levou ao comodismo e à frustração.

Até mesmo a câmera possui as mesmas características de Nancy. Tímida e receosa, de início, ela não nos mostra a primeira transa entre os dois e à medida que a personagem vai se modificando ela também  inicia a sua transformação, sem receio de despir a personagem de suas roupas e pudores.

"Eu poderia ter feito muitas coisas se não tivesse sido mãe", diz ela em uma das conversas com Léo.

Assim como em "A filha perdida", de Maggie Gyllenhaal,  "Boa sorte, Léo grande"  aponta que a mulher é sempre muito cobrada  e nem todas têm a ousadia de Leda, de "A filha perdida", de abandonarem tudo para viverem como querem viver. 

Diferente de Leda, Nancy só toma uma atitude na velhice, já viúva. 

É ao contratar um jovem inteligente e certo de sua profissão, que ela encontra a vida que não viveu, a coragem de fazer o que sempre desejou, que se desnuda pra ela e para o público para se reconhecer como mulher.

Sophie Hyde acerta em todos os sentidos e nos traz um tema cada vez mais necessário.  Ela nos mostra o quanto é difícil para as mulheres falarem sobre sexo, o quanto é difícil aceitar o próprio corpo, como a mulher é vista como alguém que não pode sentir prazer. Mostra também que a sociedade é hipócrita e Emma Thompson cumpre com excelência o papel a que ela se propõe.

2 comentários:

  1. Oi, Ju! Aqui é Tânia! Realmente, envelhecer para nós, mulheres, é muito mais difícil que para os homens. Bela crítica!

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  2. Linda crítica Ju! Quero muito ver!

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