terça-feira, 11 de outubro de 2022

Contatado - até que ponto podemos acreditar num grande profeta?


O profeta, o Messias, o grande salvador. Seja na religião ou fora dela, em momentos de extrema dificuldade costumamos nos apegar aos "sinais" que o mundo nos dá ou às palavras do grande ser supremo para que tenhamos alívio aos nossos sofrimentos.

Independente da crença ou religião de cada um, parece haver sempre um porta voz, o Escolhido, aquele alguém próximo de uma divindade que é a quem devemos ouvir e acreditar.

É dentro dessa lógica que Contatado, uma coprodução entre Brasil, Noruega, Peru e Venezuela, dirigido por Marité Ugas, e que estreia no próximo dia 13 de outubro nos cinemas, traz a história de Aldo, um ex profeta de Chilca, lugar que cultua disco voadores e extraterrestres, revisita todo seu passado ao conhecer Gabriel, um jovem que se diz à procura de seu pai que atravessou os portais para outra dimensão e que tenta convencer Aldemar a voltar a pregar para seus seguidores.

Morando numa casa em meio à demolição e vivendo de pequenos aluguéis e de bicos como guia turístico, Aldo se vê dividido em voltar àquele universo mentiroso ou seguir no anonimato e não se dá conta que Gabriel está mais é querendo tomar o seu lugar do que realmente ser só mais um profundo admirador de Aldemar e suas pregações.

O grande problema do filme está em como Aldo é facilmente levado por Gabriel, em como ele acaba ensinando passo a passo ou deixando que Gabriel o acompanhe sem se dar conta de que poderia estar sendo enganado e nos faz refletir e ter a certeza de que esses emissários divinos não passam de meros charlatões que usam da bela oratória para enganar seus seguidores.

Contatado dá voltas e não sabe onde quer chegar. Mostra uma relação fria entre Aldo e sua mãe que está num asilo, mas não conta como ela foi parar ali. Mostra que ele a todo momento se medica com gotinhas que a gente não sabe de onde vieram e o que elas fazem e deixa vários buracos no roteiro que só nos entrega uma personagem que, apesar de viril e de certa forma agressiva, aceita com passividade a tudo que lhe é tirado.

Até mesmo os pequenos tremores, que a gente não sabe se são fruto da demolição ou realmente pequenos terremotos, são produzidos com um balançar de câmera grosseiro e acompanhado de efeito sonoro amador que tiram a beleza do filme e a poesia que ele poderia ter.

Enfim, Contatado se perde na mensagem que quer passar e por outro lado, não abre o olho de quem acredita piamente nesses enviados do Senhor e só nos mostra que não há como fugir de ser enganado já que até mesmo quem recebe o sussurro divino ou extraterrestre o é.

Seguiremos acreditando que terremotos são sinais de bom agouro, que eles querem nos dizer alguma coisa e que só as dificuldades nos farão seres melhores (ou não).


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